MATÉRIA E MEMÓRIA
ENSAIO SOBRE A RELAÇÃO DO CORPO COM O ESPÍRITO
de Henri Bergson
(parte 3 – final)
Capítulo 4 – DA DELIMITAÇÃO E DA
FIXAÇÃO DAS IMAGENS. PERCEPÇÃO E MATÉRIA. ALMA E CORPO.
O corpo
teria a função de limitar a ação do espírito?
Parece
que Bergson nos quer sugerir isto, ao dizer que o corpo selecionaria as nossas
representações.
Mas o
espírito não teria a intenção de alçar vôo e libertar-se das amarras do corpo
quando busca a fantasia e a imaginação?
Qual é
afinal o papel do corpo na vida do espírito?
Haverá
possibilidade de uma união, afinal, entre o corpo e a alma?
Bergson rejeita
tanto o materialismo quanto o idealismo, o primeiro porque sustenta que o
inextenso deriva do extenso, o segundo o contrário. Coloca, para buscar a
solução do problema e uma reaproximação das duas teses, a teoria da percepção
pura, de um lado, e a da memória pura, do outro.
A memória não
seria uma emanação da matéria, mas esta derivaria parcialmente da memória.
O filósofo tenta
estabelecer um elo entre empirismo e dogmatismo, dizendo discordar apenas no
fato de o primeiro prender-se mais à matéria e o segundo, à forma. Em
contraponto ao empirismo, Bergson diz
que o erro do empirismo é justamente em substituir a experiência verdadeira – que seria, segundo ele, aquela que nasce
do contato imediato do espírito com seu objeto – por uma experiência apenas
material. O dogmatismo, por sua vez, ao buscar uma síntese fora da intuição,
alcançará sempre uma arbitrariedade na forma.
A relatividade do
conhecimento, estabelecida pela racionalidade, poderia ser superada
restabelecendo a intuição pura para uma percepção mais clara do real.
A solução que
Bergson cria para firmar suas convicções da unidade corpo e alma, entre matéria
e espírito é a formulação dos conceitos “imagem e percepção”, no plano material
e “lembrança e memória”, no plano espiritual.
Assim, o elo de
ligação entre o material e o espiritual seria a memória. A matéria seria uma
imagem e dentro da matéria a imagem que conhecemos melhor seria o nosso próprio
corpo. E é através deste corpo que podemos reconhecer o mundo, sendo, por isso,
esse corpo, o instrumento que nos possibilita a ligação com a matéria, por ser,
ele mesmo, desta mesma espécie, e sem ele o espírito não conseguiria ligação
com o mundo físico.
Por outro lado, a
percepção também seria algo puramente material, por nos mostrar a existência
das coisas.
A memória põe em
ação as lembranças. Estas, por sua vez, têm a função de construir a vida, ao
reunir passado, presente e futuro, e nesse arcabouço de reminiscências,
construir todo o referencial de experiências e vivências humanas.
As ações de
liberdade movimentam a vida. A vida é um dinamismo constante capaz de
transformar e criar o novo, mas tudo está coligado, nada é independente, nada é
isolado. Corpo e alma, matéria e espírito, lembrança e percepção, através da
intercomunicação e da interdependência constroem a experiência vivencial.
Percebemos que
para Bergson “A matéria é a realidade que se desfaz, e vida é a realidade que
se faz”.
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