A TERCEIRA MEDITAÇÃO DE RENÉ DESCARTES - PARTE 4

 

Meditações Metafísicas

 
René Descartes

Sobre a Terceira Meditação - Parágrafo 17


Parte 4

(ii)

 

PRESSUPOSTOS E CONSEQUÊNCIAS DESSA ARGUMENTAÇÃO

 

 

Primeiro, o pensamento de Descartes contido na Terceira Meditação

 

Na Terceira Meditação, René Descartes estabelece uma prova a posteriori da existência de Deus, partindo de Sua existência, de Sua perfeição, da ideia de Deus em nós, usando um argumento ontológico e fazendo uma exposição na ordem sintética ao começar por “De Deus, que Ele existe”.

Assim como para os cristãos “Deus É”, para Descartes o “pensamento é”, e Deus sendo a razão (causa) do ser do ego, este seria a razão de conhecer Deus. E o pensamento, sendo sempre pensamento de algo, e o eu sendo o pensamento, diríamos que o eu é o pensamento de Deus.

            Podemos estabelecer três ordens para o pensamento cartesiano nas Meditações:

1ª) Ordem das Razões ou dos Conhecimentos: que é dividida em três partes:   

a)    COISAS EM SI – são as coisas retiradas do mundo objetivo, do senso comum, das opiniões e que são colocadas por Descartes, provisoriamente, num baú das relatividades, ou seja, no lugar das coisas duvidosas, com as quais se deve tomar precauções, para que elas não nos induzam a julgamentos precipitados. Descartes não duvida da verdade das coisas, mas das opiniões.

b)    EGO – O eu, o pensamento, a substância pensante, a substância extensa, Deus, o homem. Há dois caminhos aqui, duas ordens, duas maneiras de estabelecer a relação Deus X homem. A primeira é partindo do homem para Deus e a outra é partindo de Deus para o homem, ambas as maneiras praticadas nas obras de Descartes.

c)    COISAS PARA MIM – é a ordem dos pensamentos, das ideias, que podem ser absolutas (Deus, ser) e relativas (coisas que contêm pouco clareza e distinção, como as coisas provindas dos sentidos).

2ª) Ordem do Ser – o conhecimento metafísico busca o ser e o  conhecimento científico busca o objeto.

3ª) Ordem do Conhecer – coexistência entre o Ego e Deus, ou relação entre Ratio Cognoscendi de Deus (a razão de conhecer Deus) e Ratio Essendi do Ego (razão, ou causa do ser do Ego).

 

            A ideia (logos, pensamento) não precisa do objeto. Ela já é em si. Ao contrário, o objeto não existe sem a ideia. Ela é-lhe imprescindível. Deus é em-si, o homem depende dele. A ideia do homem amolda-se à forma-homem. Essa forma-homem surge da ideia do homem. E a ideia do homem é o homem, na essência. Sua forma contém a essência, que está na ideia do homem. E essa essência surgiu do Espírito, a fonte de todas as ideias e coisas, que para Descartes é Deus. E o papel do conhecimento, nesse contexto, é, para o homem (Ego), levar a Deus, e para Deus, trazer o homem novamente a Si.

 

 

(continua) 

 

Bibliografia:

Agostinho. De Libero Arbitrio, livro II, capítulo 3, parágrafos 7, 8 e 9.

Descartes, Rene, Meditações Filosóficas (1ª, 2ª e 3ª meditação), edição Os Pensadores.

Descartes, Rene, Princípios da Filosofia, Editora UFRJ, 2002.


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