Meditações Metafísicas
René Descartes
Sobre
a Terceira Meditação
Parágrafo
17
Parte 2
O PERCURSO DO PARÁGRAFO 17 DA TERCEIRA MEDITAÇÃO
Princípio da Causalidade e Correspondência
Descartes parte da ideia de que se o nada não pode
produzir coisa alguma, tudo deve ter surgido de algo. E esse algo, por ter
gerado alguma coisa, deve ser mais perfeito que essa coisa gerada por ele.
Então, o menos perfeito é decorrência do mais perfeito e esta verdade é clara e
evidente tanto na realidade formal, ou seja, na coisa em si, nos efeitos, como
na realidade objetiva, nas idéias.
Em seguida, ele discorre sobre os possíveis agentes
causadores da pedra e do calor, como sendo idéias pré-existentes deles e alega
que tanto a ideia dessas coisas quanto essas coisas em si são reais e mesmo que
somente exista a ideia dessas coisas e não as coisas em si, essas idéias ainda
serão reais.
Continua, dizendo que toda ideia é obra do espírito
e não necessita do objeto ou coisa em si para existir ou ser real, mas sim de
uma causa, e nesta causa deve existir tanto a realidade formal como a realidade
objetiva, ou seja, a causa já é tudo, tanto a ideia quanto a coisa em si. Pois
se na ideia de algo puder existir alguma coisa que não existe na causa dessa
ideia, ela somente poderia tirar esse algo do nada, mas esse pensamento é
falso, porque do nada não é possível tirar algo. Só podemos tirar algo de
alguma coisa ou causa.
Uma ideia dá origem a outra ideia, mas isso não vai
ao infinito, existe uma primeira ideia (causa original, padrão), na qual toda
perfeição ou realidade esteja contida como efeito ou realidade formal.
As ideias para Descartes são quadros ou imagens
imperfeitas da primeira ideia ou causa original e por isso jamais podem ser
mais perfeitas do que estas, sendo apenas representações dela.
Portanto, se há no homem a ideia de Deus é porque
Deus existe como causa do homem, e esse Deus É, tanto como realidade formal
quanto como realidade objetiva, assim como também o homem é, das duas maneiras.
Só que Deus tem a perfeição e ao gerar o homem de si, contem tudo aquilo que o
homem tem e muito mais que o homem; podemos dizer que Deus é a causa e o
efeito, o gerador e o gerado, a ideia e a coisa ou ser em si, porque o que
surgiu dele é parte dele, portanto, ele é Onipresente, Onisciente e Onipotente,
ou seja, está em todos os lugares, tem plena consciência de tudo, e tem
plenos-poderes, explicando-se assim porque Descartes nos conduz ao pensamento
de que a causa contem tanto da realidade objetiva quanto da realidade formal.
(continua...)
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